Tapera
Voltando à Querência (2008)
Francisco Vargas
Vertente de água, um matinho nos fundos
Casebre por fundo, nos oitão caída,
Parece mentira, meu primeiro lar,
Volto a visitar, meu peito suspira
Foi lá que mamãe entregou a papai,
Um amor sonhado e tanto esperado
Por isso até hoje do peito não sai,
Revendo a tapera que os velhos moravam
Mangueira redonda de vara e tronqueira,
Cancha de carreira, que o brejo tapou
A aranha velha em busca parteira,
Os pés de fruteira que a terra criou
A ramada grande que o papai mateava
Os pés de roseira que a minha mãe plantou
A horta de couve que o guri cuidava
E o forno de barro feitim por vovô
Naquele matinho na costa da sanga
Eu comia pitanga e armava arapuca
Ali se escondia nossos bois de canga
A fugir do arado e não de mutuca
A fonte de água parou de correr
Chorei por não ver os meus pés de fruteira
O coqueiro alto que eu comia coco
Ainda ví o tronco da guabirobeira
Me fui nesse xote chasqueiro do tempo
Deixei muito longe a infândia pra tráz
Botei na garupa do meu pensamento
Rever a tapera dos meus velhos pais
O que a terra cria esse tempo transforma
E jamais retorna do jeito que era
O mundo agitado a vida não espera
Adeus meu passado, querida tapera