Vaqueano
Dupla Mirim - Violeiro (1963)
Os Mirins
Nascido em catre de lua
na madrugada campeira
quando o clarão da boiera
queimava a noite charrua
na deusa pampa chirua
filha de sol e minuano
mamei até o sobreano
sem nunca molhar os cueiros
lá onde os pajés missioneiros
me batizaram vaqueano.
na marca da identidade
carrego a estampa de todos
andejos e rapsosos
criados na imensidade
o vício da liberdade
adquiri no infinito
desde que o tupã bendito
num gesto paterno e largo
me deu o sagrado encargo
de fazer mapa solito.
hoje a guitarra das fontes
já não faz bordoneios
morreram os pastoreios
as potreadas e os repontes
não vejo nos horizontes
o sol procurando ninho
fiquei no tempo sozinho
prisioneiro da paisagem
e após a última viagem
me transformei em caminho.
vaqueano! onde estás vaqueano?
há um eco que me interroga
a evolução pôs a soga
o meu destino haragano
morre o último pampeano
mas eu, vaqueano, não morro
o meu pingo, o meu cachorro
há muito foram proscritos
mas guardo n´alma infinitos
que tempo a dentro percorro.