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Batendo Água

Fronteiro (2005)

Edilberto Bergamo

Meu poncho emponcha lonjuras batendo água
e as águas que eu trago nele eram pra mim
asas de noite em meus ombros sobrando casa
longe das casa ombreada a barro e capim


faz tempo que eu não emalo meu poncho inteiro
nem abro as asas da noite pra um sol de abril
faz muitos dias que eu venho bancando o tino
das quatro patas do zaino pechando o frio

[troca um compasso de orelhas a cada pisada
no mesmo tranco da várzea que se encharcou
topa nas abas sombreras, que em outros ventos
guentaram as chuvas de agosto que deus mandou]

meu zaino garrou da noite o céu escuro
e tudo o que a noite escuta é seu clarim
de patas batendo n´água depois da várzea
freio e rosetas de esporas no mesmo trim


falta distância de pago e sobra cavalo
na mesma ronda de campo que o céu deságua
que tem um rumo de rancho pras quatro patas
bota seu mundo na estrada batendo água


[porque se a estrada me cobra, pago seu preço
e desabrigo o caminho pra o meu sustento
mesmo que o mundo desabe num tempo feio
sei o que as asas do poncho trazem por dentro]


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