História de um Valente
Nego Bom, Não Se Mistura (1989)
Crioulo dos Pampas
Ouvindo o ruído de um baile de rancho,
Cheguei de carancho na porta da sala,
A guaita baguala, choro pachulento,
Que fazia um vento nos furos de bala,
Num canto uma prenda chorava sentada,
E eu disse "coitada choro não me abala",
Arrastei a prenda para o meio do bolo,
Porque o índio tolo por pouco se rala.
Fazia um tinido na sola da bota,
Com a maricota segura no braço,
Sem perder o compasso da velha vaneira,
Uma nuvem de poeira brotou no espaço,
Cuidado gaúcho, não dança apertado,
Papai é malvado e chega no pedaço,
A adaga que usa tem três palmo e meio
E derruba um esteio só num balolaço.
Chinoca lindaça não tenhas receio,
Eu paro o rodeio e conto o tirão,
Vou dar uma lição pra este velho imponente,
E ensino o valente de bom coração,
Montamos no pingo num grito de upa,
Tu vais na garupa para o meu rincão,
Eu te dou amor e tu me dá carinho,
E lá no meu ranchino ceva um chimarrão.
Calou-se a cordeona sem dar arremate,
Pra mim um empate era bom resultado,
Pra china ao meu lado eu disse é agora,
Que um galho de amora se encontra ao tostado,
A china entendeu e gostou da proposta,
Sorriu por resposta e mirei no malvado,
O ferro brandeava e o aço tinia,
E o taura caía no chão estirado,
Moça que gritava e velha que corria,
E o índio fazia dar beijo no chão,
Quebrei o lampião e me adonei da sala,
Derrubei a bala a porta do salão,
A Lua clareava detrás da colina,
Carreguei a china com essa intenção,
Pra enfeitar meu rancho e ser minha companheira,
É o fim da carreira deste valentão.