Rei Do Baralho
Saudades de Passo Fundo (1963)
Teixeirinha
Eu fui o rei do baralho, homem de má intenção.
jogar carta e beber cana era minha inclinação.
quando eu sentava no jogo, sentava de prevenção.
no sinto um "revolve smith", muita bala e um facão.
já bebia uma cachaça misturada com limão
puxava o chapéu pros olhos e misturava o carvão.
roubava uma carta e duas, jogava outra no chão
botava outra no bolso, tava feita a "tapeação".
um parceiro ou outro via, já me chamava atenção
de bravo eu virava a mesa, me chamavam de ladrão.
outro mais gato gritava terminem com a discussão
seguia o jogo de novo,vergonha não tinha não.
quando amanhecia o dia não me restava um tostão
chegava em casa com sono já dava outra explosão
a mulher pedindo roupa, os filho pedido pão
e eu não tinha pra dar, que maldita profissão.
um dia minha filhinha, me agarrou pela mão
papai você me acompanha pra uma apresentação
e me levou numa igreja onde reina a devoção
me apresentou para o padre que me fez a confissão
depois de muitos conselhos eu chorava de emoção
tomei a hóstia sagrada, e a santa comunhão.
daquele dia pra cá, tenho deus no coração
nunca mais peguei baralho, me livrei da tentação.