Salso Chorão
Leonardo - Carta a Uruguaiana (1986)
Leonardo
Não trepe neste meu salso chorão
Ela chora minhas mágoas no inverno
E nos dá sombra no verão.
Plantei meu pé de salgueiro
Lá nas barrancas do rio -
Cresceu guapeando as tormentas
Vendavais calor e frio.
Criou raízes no pampa
E os seus galhos compungidos -
Foram sombras dos tropeiros
Marcos de rumos perdidos.
Um dia deixei o pampa
Para buscar novas fontes -
Deixei meu salso solito
Me perdi nos horizontes.
Rebenqueando pela vida
Voltei de rédeas no chão -
E fui choras minhas mágoas
Ao pé do salso chorão.
Chorei a infância querida
Reculutando as lembranças -
E o salso chorou comigo
Como fazia em criança
Milhões de vozes do pampa
Cantavam um canto de ausência
Encostei meu rosto no chão
Acarinhando a querência.
Marquei a fogo as tristezas
Refuguei a solidão -
Apertei lembranças tristes
Finquei os joelhos no chão.
Sequei o pranto dos olhos
Marejados de emoção -
E cantei minha saudade
Ao pé do salso chorão.