Batendo Água
Novo Amanhã (2001)
Grupo Querência
Meu poncho emponcha lonjuras batendo água
E as águas que eu trago nele eram pra mim
Asas de noite em meus ombros sobrando casa
Longe das casas ombreada a barro e capim.
Faz tempo que não emalo meu poncho inteiro
Nem abro as asas de noite pra um sol de abril
Faz muitos dias que eu venho bancando o tino
Das quatro patas do zaino pechando o frio.
Trocam um compasso de orelha a cada pisada
No mesmo tranco da várzea que se encharcou
Topa nas abas sombreras que em outros ventos
"guentaram" as chuvas de agosto que deus mandou.
Meu zaino garrou da noite o céu escuro
E tudo o que a noite escuta é seu clarim
De patas batendo n'água depois da várzea,
Freios e rosetas de esporas no mesmo trim!
Falta distância de pago e sobra cavalo
Na mesma ronda de campo que o céu desagua
Que tem um rumo de rancho pras quatro patas
Bota seu mundo na estrada batendo água;
Porque se a estrada me cobra, pago seu preço
E desabrigo o caminho pra o meu sustento
Mesmo que o mundo desabe num tempo feio
Sei o que a asas do poncho trazem por dentro.