Meu peito tem um rincão
Que é de alma e de campo aberto
Tem um tarumã por perto
Sombreando a calma por onde vivo
É um horizonte largo
Pra qualquer vista que se estender
Pois aprendeu a renascer
Sempre que a vida lhe dá um motivo
Às vezes no fim do dia
Depois que o mate seca a cambona
A saudade redomona
Busca um achego nos olhos meus
E eu olho tudo na volta
Pra me dar conta logo em seguida
Que tudo isto é a vida
Que há muito tempo peço pra Deus
Qualquer cruzada na estrada
Se avista longe rancho e galpão
E por certo um redomão
Pastando à tarde sem nem notar
E um bando de garças brancas
Plantando a alma e sua essência
Este rincão é a querência
Pra quem é amigo desencilhar
Esse rincão tem fronteiras
Que nem eu mesmo sei onde vão
Tem um rancho-coração
Que guarda todo o meu sentimento
Às vezes desaba a quincha
Perdendo a força que a vida cobra
Igual ao capim que dobra
Sempre pra o lado que sopra o vento
Depois das chuvas de outono
Verdeja sempre a mostrar o viço
Talvez bem seja por isso
Que a enchente leve por diante a sanga
Tem por dentro ensimesmado
Todas as mágoas e seus amores
E se nele nascem flores
Crescem os espinhos das japecangas
Esse lugar em que falo
É um campo largo pra quem se achega
Nem sei dizer se ele chega
A ser todo meu se a saudade aperta
Tem sempre alguém esperando
Com boas vindas e cuia na mão
Meu peito tem um rincão
E um coração com a porteira aberta!
Só é mate se tiver algum jujo (chá) junto com a erva.
Amparo, encosto, auxílio, proteção
Primeira habitação erguida no Continente de São Pedro, edificada com material que abundava no local (leiva, torrão, pedra ou pau-a-pique e barreado), coberto com quincha.
Lugar isolado em fundo de campo.
Cabaça para chimarrear (ou matear); em guarany caiguá.
Espaço seccionado numa cerca.