Este tobiano da estância
Foi o bicho mais maleva
Que o diabo inventou pra um peão
Zóio de chancho, cabano,
Sargo, coiceiro, aragano,
Maneteador e bufão.
Peão que chegasse atrasado
Na segunda, mui sovado
Das farras pelo rincão.
Já se sabia sua pena
Era encilhar o ventena
Que assim mandava o patrão.
Uma feita, era segunda,
Na estância ao clarear do dia
Com cara de laço novo, cheguei
Já estava o meu povo na mangueira
E alguém gritou, quando já dava o cavalo
Lace o tobiano capincho
Pra esse que vem dos bochincho
Do rincão dos cantagalo.
Que sina. se eu tinha o peito
Mais puro que a estrela d?alva
Que bico de beija flor
Qual bochincho ? se eu voltava
De ver a prenda que amava
Todo enredado de amor.
Virge do céu! será o diabo
Um cristão que andou bailando
Por duas noites e três dias
Com no ouvido as harmonias
Da cordiona retrechando
E o coração sarandeando
Numa havanera macia.
Nos olhos tontos de sono
Como em espelho pequeno
Aquele corpo moreno
Com crespos que o vento bate
E o aroma, a flor e o sereno
Que vem na prosa em cochicho
Ah! que aroma. eu não vi em bolicho
Nem nos baú dos mascates.
E os negros olhos ariscos
Como iraras bombeadeiras
Nas poças que a seca embarra
Na sombra de um caponete
E que maneia o ginete
Como pialo de cucharra.
Quanta coisa ela me disse
Não dizendo quase nada.
Quanta coisa ela entendeu
Da minha boca cerrada.
Porteira do coração.
E agora eu, moço, monarca,
Chego batendo na marca,
No meu ofício de peão.
Bonito, agora acordar
De um sonho que é um lindo engano
Soltar o corpo franzino
Em que envidei meu destino
Pra me trompar com o maligno
Que é esse capincho tobiano.
Chego. e, bom dia senhores,
Largo já meio covarde
E me respondem: boa tarde,
Dormiu nas palhas, paisano
Largue este e traga o buçal
A la pucha, que é desigual
A sorte de um campechano.
Vinha o tobiano no laço
Como dourado na linha,
Ligeiro como tainha,
Como traíra de açude
Dando mais pulos e saltos
Do que um calcuta na rinha.
Ah! quando a sorte é mesquinha
Não hai feitiço que ajude.
Prá encilhá o venta rasgada
Foi abaixo de oração
E já maneado, enfrenado,
Foi luta prá arreglá os troço.
Rezei quatro padre nosso
Só prá sentar o chergão.
Cheguei a carona e os bastos
E quando a cincha tinia
O infame se foi pro céu
Voltou e tombou de boléo
Quase perdendo o chapéu
Rezei quatro ave maria.
E o urso, como um bodoque
Traiçoeiro, olhando prá trás
Com a cincha no osso do peito
E eu lhe ajeitando, com jeito
Por causa do capataz
Depois de bem encilhado
Tranqueou com passos de tango
Muito mal intencionado.
Encolhido e retovado
Eu vi a minha vida pequena,
Corri os olhos na chilena
E olhei pra tala do mango,
E na voz de vamo moçada
Campeei a volta e montei
Certito e firme nos bastos.
Já o bicho vinha urrando
Ladeadito e se bandiando
Como quatiara de arrasto.
Nós fomos daquela toada
Nessa dança desgranida
Em que um taura arrisca a vida
Só pra honrar a pataquada.
Depois, de focinho gacho
Carona, apero e descida
Na fúria despavorida
De um touro na costa abaixo.
Me encomendei pro senhor
Também pra virgem maria
Nem sei como resistia
Assim, blandito de amor
E sem amadrinhador
Nesse lançante tremendo
Me fui solito, me vando
Mais triste que um payador.
Rodou e ficou roncando
Quebrado. É o fim do capincho
E eu paradito e continuo
A pensar desta maneira
Por ti, a mais linda trigueira
Gineteio a vida inteira
No lombo do meu destino.
Grande estabelecimento rural (latifúndio) com uma área de 4.356 hectares (50 quadras de sesmaria ou uma légua) até 13.068 hectares (150 quadras de sesmaria ou três léguas), dividida em Fazendas e estas em invernadas.
Apero (acessório) trançado de couro cru, composto de argola, ilhapa, corpo e presilha.
Vila, distrito.
Lugar isolado em fundo de campo.
Briga feia, festa informal
Jóia, relíquia, presente (dádiva) de valor; em sentido figurado, é a moça gaúcha porque ela é jóia do gaúcho.
Apero da encilha que serve para apertar os arreios.
Nervura principal de algo.
Vivente que se pode recomendar.
Descida forte e acentuada.