INFORMAÇÕES DA MÚSICA

Orfão de Mãe Preta

Jayme Caetano Braun

CD Êxitos 2 (2000)

Patrão! É o negro venâncio
que pede vossa licença,
pra vos dizê que a vicença
morreu de parto, patrão
e ao ir pra baixo do chão
não tinha nada de seu,
só deixô quando morreu
este negrinho chorão.

neto da negra donata
escrava do vosso avô,
a negra que amamentou
“vacês” tudo, patrãozinho.
por isso eu “truxe” o negrinho
afim que “vacê” o ajeite
pois mais do que “ropa” e leite,
ele “percisa” carinho.

a vincença, “miseráve”,
morreu sem le botá nome
e aqui está, roxo de fome
o pobre entinho bendito,
sem força nem pra dá um grito
e os “óinho” cheio d’água
“refretindo” a triste mágoa
de tê ficado solito.

me alembrei que a patroinha
há “poco” ganhô “famia”.
patrão, quem sabe ela cria,
como paga de um favor,
esse entinho sofredô
pialado da sorte ingrata,
pois é neto da donata,
que foi vossa mãe de cor.

não fique bravo, patrão,
nem tome por desaforo.
mas “óie” que ouvindo o choro
desse negrinho mijado
o índio mais calejado
tem vontade de sê “bão”
e chega a pedir perdão
de tudo quanto é pecado.

“adiscurpe”, meu patrão
eu sinto o que “vacê” sente
“contemprando” esse vivente
que as lágrimas nos arranca
mas vai vê que o choro estanca
e o negrinho da vicença
nem vai achá diferença
entre mãe preta e mãe branca.

já vô simbora, patrão!
nosso “sinhô” o abençoe
e ao mesmo tempo perdoe
aqueles que tudo tendo
passam a vida, não vendo,
cegados pela luxúria,
a miséria e a penúria
dos que já nascem sofrendo.

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