Dom Fermino olha pra vida com seu olhar penetrante
Vai contemplando os detalhes do que conhece bastante
Por ter vivido contente cada nuance e matiz
Sabe que o homem mais sábio não passa de um aprendiz.
Esquenta a água pro mate no seu galpão fumacento
Enquanto cuida a cambona vai campereando por dentro
Precisa dessas quietude e dos punhais que ela crava
Pois sabe que no silencio cabe todas as palavras.
Dom Fermino afia a faca e desquina tentos parelhos
Nem que lhe peçam bastante, jamais arisca um conselho
Vai trançando laços fortes que aguentam uma polvorosa
Na trança usa a saliva que economiza na prosa
Ainda encilha o cavalo, enverga a pilcha completa
E a barba branca lhe empresta um certo ar de profeta
Será humano eu pergunto que tanta luz erradia
Parece um bruxo campeiro, guardião da sabedoria.
É desses homens de antanho sempre atalhado a facão
Estão desaparecendo frente à globalização
Respira a filosofia, faz da ética a verdade;
Sem nunca ter se sentado num banco de faculdade.
Dom Fermino é da fronteira, olhar de pampa e de serro
É mescla do velho Braun Nunes, com algo de Martin Fierro
Das rugas vergas de arado, arroios nas cicatrizes
E uma gente se forjada com raças de três países.
Conhece os jujos do campos entende os males e curas
Domina as voltas da lida mesmo em qualquer por ventura
Não se arisca no serviço, nem facilita o perigo
Sabe que tudo que é vivo carrega a morte consigo
Dom fermino não se espanta, a força vem lenhadita
O tempo atrasou seus passos parceiros das alpargatas
Nenhum tropeço-lhe assusta, ninguém lhe faz inseguro
Quem não arrelha o presente, não teme o próprio futuro.