Ao reponte do sol que descamba
No dia se aprochega para o arremate
Pelos campos e nos matos da querência
No revoar da bicharada voltando ao ninho
É hora de recolhimento
No rancho que há no interior
De mim mesmo
Eu, gaúcho de fé
Me arrincono e medito
Despindo o poncho da vaidade
E do orgulho
Tiro o chapéu, apago o pito
E me achego pra uma prosa
Com o patrão maior
Na sua presença
Meu sangue quente de farrapo
Se faz manso caudal
Entrego-lhe minha alma
Afoita de alcançar lonjuras
E abrir cancha
Em busca do destino
Renuncio à minha xucra rebeldia
Me faço doce de volta
E macio de tranco
Para dizer-lhe
Gracias patrão
Por tudo que me deste
Por esta querência senhor
Que meus ancestrais regaram
Com seu sangue
E que aprendi a amar desde piá
Pelos meus parceiros
Nessa ronda da vida
Sempre de prontidão para
Me amadrinharem na
Campereada mais custosa
Ou para matearem comigo
Na hora do sossego
Reparte com eles, patrão
Esta fé que me deste
E este orgulho pela minha
Querência
Ajuda patrão
A manter acessa esta chama
Concede sempre ao gaúcho
A força no braço
E o tino pra saber o que
É correto
Dá-nos consciência
Para preservar a nossa cultura
Livre da invasão dos modismos
Conserva a essência e a beleza
Da nossa tradição
E agora, com licença patrão
Que vou aproveitar a olada
Para um dedo de prosa com
Nossa senhora
Ave maria
Primeira prenda do céu
Contigho está o senhor,
Na estância maior
Tu és bendita entre todas
As prendas
E bendito é o piá que
Trouxeste ao mundo, jesus
Maria, mãe de deus
E mãe de todos nós
Roga pela querência
E pelos gaudérios
Que aqui moram
Nesta hora e no instante
Da última cavalgada
Amém