Letra: Anomar Danúbio Vieira
"Quando me atrevo num verso, eu digo o que é de dizer
Não sou de me arrepender, depois que escrevo, sustento
Não anda ao sabor do vento quem tem alma de querência
E tutano e procedência, quem tem, não afrouxa um tento
Do campo, trago as imagens pra o interior do poema
Sempre foi meu sistema encarar tudo de frente
Lidando com bicho e gente, desconfiado e cabuloso
Que o maula mais perigoso é o que se faz de inocente
Sou de paz e de harmonia, mas, de varde, me aporreio
E quem não quiser enlheio, que não me pise no pala
Quem tem consciência, não cala ante os costumes mudados
Quem manda muito recado, acaba perdendo a fala
Não gosto que me comparem com nada e nem com ninguém
Sou assim e assim convém de manter viva a tradição
No meu verso de galpão pra se cantar debochado
E não triste e acabrunhado que nem coruja em moirão
Não sou santo, mas sou justo, meio certo e meio louco
E fui conquistando aos poucos respeito e amizades boas
Pra os namoro', meio à toa, mas carinhoso e sincero
O que pra mim eu não quero, eu não quero pra outras pessoas
Daquele tempo que eu venho, a vergonha tinha valor
E a palavra, sim senhor, era mais que um documento
A coragem e os argumentos governavam as atitudes
E a honra de um índio rude se passava em testamento
Hoje, anda escassa essa cosa' de ser correto e Pau-Ferro
Mas ninguém ganha no berro da verdade e da razão
Pois mais que mude a versão, não muda' os fatos da história
E aquele que tem memória, tem seu futuro nas mãos"