Autor: mauro moraes
eu tenho alma das antigas carreteadas
sorvendo léguas de estradas no tranco lerdo do boi
vivência rude, semeadeira de querência
que por rangir existência insiste que não se foi.
eu tenho alma de bagual de queixo atado
bem cozido e despachado na doma tradicional
serviço bruto, de paciência e fundamento,
quando arrocha sentimento junto ao tento do bocal
eu tenho alma de rodeio bem parado
quando mangueira trançado subia cortando rastro
e o peão campeiro se escondendo na presilha
recomendava a tordilha que vinha embaixo dos bastos
(talvez por isso eu seja um pouco intransigente
com essas coisas diferentes, com essa mania do novo,
pois não me esqueço de buscar a evolução,
sustentando a tradição e a cultura do meu povo.) bis
eu tenho alma de bailongo de candeeiro
quando só gaita e pandeiro faziam festa grongueira
e a madrugada se luzia querendona
admirando a sia dona com olhos de lua inteira
eu tenho alma de fumaça de braseiro,
de cerração e palheiro perfumado à figueirilha,
do galpão tosco, pau a pique bem quinchado,
do mate amargo jujado com carqueja ou maçanilha.
eu tenho alma de um domingo de carreira,
cancha reta na fronteira, sombra de rancho e ramada,
lá donde a tava bem ferrada se floreia
pra viajar na volta e meia campeando suerte clavada