Eu dei de mão na minha pilcha de gaúcho
Há muito tempo que eu não mexia nela
Lustrei minhas botas cano longo
Também passei minha camisa amarela
Botei em dia a minha bombacha preta
E com carinho dobrei o meu lenço branco
Tirei a poeira do chapéu de aba larga
Botei na cara um sorriso muito franco
Olhei no espelho e me senti orgulhoso
De estar vestido igual meu pai se vestia
Fui no curral, encilhei um bom cavalo
E a galopito saí pela serrania
Mas de repente, cavalgando ao meu lado,
Apareceu um estranho cavaleiro
Cabelos brancos e o rosto enrugado
Foi me falando num linguajar bem campeiro
- saiba seu moço, que esta terra em que pisamos
E onde vive toda a sua geração
Há muitos anos eu e outros conterrâneos
Derramamos nosso sangue pelo chão
Foram dez anos de uma luta desigual
E que nem roupa pra vestir a gente tinha
Riam de nós, nos chamavam de farrapos
Mas nós sabíamos que a vitória vinha
- foi com bravura, com raça e muita coragem
Que conseguimos alcançar essa vitória
Liberdade, igualdade, humanidade
Escrevemos nos anais da nossa história
E é depois de todo esse sacrifício
Com tristeza que eu olho pra esta terra
E fico vendo tanta gente esfarrapada
Até parece que continuamos em guerra
- diga também a essa gente que hoje vive
Sobre esta terra pela qual dei minha vida
Pra que respeitem mais os seus antepassados
Para o rio grande não ter nova recaída
Diga também que vou continuar cavalgando
Sempre que houver injustiça entre os homens
Pois minha alma não vai descansar em paz
Enquanto houver um só gaúcho com fome
Palavra de origem guarany, pois nessa língua não existe vocábulos com o som da letra “L”.
Calça-larga abotoada na canela do gaúcho
Vivente que monta bem e é hábil no serviço de campo.
Alcunha pejorativa dada pelos imperialistas, aos rebeldes e revolucionários de 1835 / 45.