INFORMAÇÕES DA MÚSICA

Brasil Doente

Jayme Caetano Braun

CD A Volta do Farrapo (2008)

Meu Brasil grande
fogão. de pátria e de nativismo
no altar de gauchismo da crioula tradição
na hora do chimarrão enquanto escuta a chaleira
meu cusco baio coleira como sentinela amigo
fica pensando comigo na situação brasileira

companheiro, permanem
igual a mim, um teatino
meu parceiro examino o quadro do Brasil doente
preocupado com o paciente entregue pro estrangeiro
um causo brabo, traiçoeiro de virose delfinista
tendo tando tanto especialista tratado por curandeiro

minada em toda estrutura desde a mente até oçamenta
o pobre doente apresenta febre, fome e amargura
com princípio de loucura e completo esgotamento
sem nenhum medicamento
o preço é proibitivo

na verdade,
um morto-vivo pela falta de alimento
e a insensatez teimosia
nesse país hospital
faz que o pobre marginal descaia dia após dia

a reserva que existia de a muito foi extinguida
a pátria grande vendida, tudo entregue, quase dado
enquanto o doente, coitado, arrasta uma sobrevida
talvez pareça exagero
mas vale a comparação

meu cusco junto ao fogão olha tristonho o braseiro
mas o homem brasileiro que está me ouvindo concorda
o balde encheu e transborda
e o pobre povo indefeso
está a ver com tanto eso vai arrebentar a corda

parece até brincadeira
que um país com essa potência
viva em tamanha indigência frente a tanta bandalheira
a impunidade é a bandeira e cada qual é mais vivo
o processo punitivo é instalado e difundido
e depois de concluído vai direto pro arquivo

é a derrogada suprema de um sistema que se esvai
para quem vende, quem trai, que importa que o povo gema
que importa que o povo trema
ou se a pata se desune
o grupo que manda imune a problemas de conciência
prossegue na inconsequência porque se acredita impune

na velha capitania de são pedro, tudo igual
o centralismo mortal nos esmaga dia-a-dia
e o capataz que iludia falta garrão pra mandar
tem vontade de mostrar que é gaúcho queixo duro
mas subiu demais no muro e agora não pode apear

quem sabe eu tenho a esperança
ele é gaucho afinal
quem sabe um santo bagual faz que se lembre da herança
dos que empurraram com a lança as linhas desta fronteira
e calce o pé na porteira dizendo como índio macho
que ninguém faz de capacho esta província campeira

que diga a esses insensatos
que nos reduzem a trapos
que neste chão dos farrapos, chimangos e maragatos
não há lugar pra gaiatos
e pra bobos não servimos
e nem tampouco pedimos
e nem tampouco imploramos
aquilo que conquistamos
nós simplesmente exigimos

é tão simples dizer basta
na terra que demarcamos
na situação que chegamos
o que não voa se arrasta
é hora de apear a casta que nos explora e desgraça
o povo virou carcaça
pra pasto dos urubus
das Anas, Marias, Jus, que nos compraram de graça

o dólar sobe
e subindo aumenta a dívida externa
e a trindade que governa segue sorrindo e sorrindo
e o pobre povo ringindo
vive agora pior que bicho
já nem vai mais a bolicho
criaturas seminuas que andam cruzando nas ruas
catando em latas de lixo

e como pode o Brasil
viver assim ante o mundo
mostrando esse quadro imundo
tão implorável, tao vil
pobre país teu perfil
precisa ser recomposto
deixar de ser entreposto
do explorados estrangeiro
pra que o povo brasileiro
de novo mostrar o rosto

mas o que é a democracia
o termo que a gente escuta
nessa terrível labuta
que se agrava dia-a-dia
vender a soberania
a interesses estrangeiros
ou carne a cinco mil cruzeiros, isso aquela de segunda
é pior que um talho na bunda de todos os brasileiros
e dia dois no gigantinho
...


//letra transcrita. pode conter erros.

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CUSCO

Pequeno cachorro (o mesmo que guaipeca).

CAUSO

Conto, estória.

POVO

Vila, distrito.

CAPATAZ

Segunda autoridade de um estabelecimento rural (Estância, Fazenda ou Grânja), de uma Tropa ou de uma Charqueada.

GAÚCHO

Palavra de origem guarany, pois nessa língua não existe vocábulos com o som da letra “L”.

BAGUAL

excelente, bom, ótimo ou cavalo xucro

PORTEIRA

Espaço seccionado numa cerca.

TALHO

Ferimento produzido por objeto cortante.