Eu quis fazer uma milonga despida de toda tristeza,
Pra poder jogar sobre a mesa as cartas que sempre ocultei.
Eu quis fazer uma milonga sem nem uma ponta de dor,
Abrir minhas portas, janelas, limpar meus porões do rancor.
Eu quis fazer uma milonga que não lembrasse navios
Que partiram há tanto tempo pra lugares de que nunca se ouviu falar...
Eu quis fazer uma milonga que desse um gosto na boca,
Um gosto na boca na hora de cantar.
(pode ser que sim, pode ser que não,
Pode ser que essa milonga
Venha a tocar teu coração.) bis
Eu quis fazer uma milonga adocicada e faceira,
Pra gente cruzar a soleira e dançar pelos fios do luar.
Eu quis fazer uma milonga, feito cena de cinema,
Que acaba virando um poema aos olhos de todo piá.
Eu quis fazer uma milonga que não lembrasse nossas guerras,
Que deixaram tantas marcas que não cicatrizarão jamais.
Eu quis fazer uma milonga pra me cercar de esperança,
Toda esperança de teu sorriso voltar.