Evocação
Quando Canta Um Missioneiro (2010)
Ramão Missioneiro
Se prestarem atenção
no que esta milonga fala
na cancha do improviso
vou estender o meu pala
sou grito de souza neto
que no rio grande não cala.
pela vida fui forjado
na sepa bugra da raça
e quando abro meu peito
o mundo treme a carcaça
das seis cordas da guitarra
faço levantar fumaça
nasci num rancho de barro
num catre de couro crú
fui batizado com brasas
orgulho deste chirú
minha mãe a lua pampeana
meu pai o vento do sul
no tilintar das chilenas
no berro de algum zebu
se morrer renascerei
gritando de peito nu
com lança, vincha e boleadeira
nas terras de tiarajú
sou barro de terra e sangue
trago o rio grande na estampa
sigo lonqueando o destino
trançando o couro da pampa
escrevendo a minha história
a berros, cascos e guampas
latino por descendência
sem nunca negar meu chão
mesmo pelo e mesma crença
dos pajés do meu rincão
as três pátrias sem fronteiras
eu canto com devoção...