Timbre De Galo
Páginas Gaúchas (2000)
Wilson Paim
Rio grande, berro de touro, quatro patas de cavalo.
quem não viveu esse tempo, vive esse tempo ao cantá-lo
eu canto porque me agrado, neste meu timbre de galo.
É verdade que alguns dizem, que os tempos de hoje são outros,
que o campo é quase a cidade e os chiripás estão rotos,
que as esporas silenciaram, na carne morta dos potros.
cada um diz o que pensa, isso aprendi de infância,
mas nunca esqueça o herege, que as cidades de importância
se ergueram nos alicerces dos portins e das estâncias.
não esqueça, de outra parte, para honrar a descendência,
que tudo aquilo que muda, muda só nas aparências
e até num bronze de praça, vive a raiz da querência.
eu nasci no tempo errado ou andei muito depressa
dei ó de casa em tapera, fiquei devendo promessa,
mas se pudesse eu voltava, pra onde o rio grande começa.
e se me chamam de grosso, nem me bate a passarinha.
a argila do mundo novo não tem a mescla da minha,
sovada a cascos de touro com águas de carquejinha.
rio grande, berro de touro, quatro patas de cavalo.
quem não viveu esse tempo, vive esse tempo ao cantá-lo
eu canto porque me agrado, neste meu timbre de galo.
eu canto porque me agrado, neste meu timbre de galo.