Sentimento de Viúvo
Gildo de Freitas e Sua Caravana (1978)
Gildo de Freitas
(Vocês estão vendo esse traje preto que eu uso
Nos lugares donde cruzo ninguém sabe porque é
Me representa uma nuvem de paixão
Que me enluta o coração por ter perdido a mulher
Aquela prenda que eu amava com ternuras
E que o destino nos dois nos separou
Por que a má sorte debruçou-se entre nós dois
E a negra morte a companheira levou)
Eu lembro um pé de roseira que tinha sobre a janela
Que era os cuidados dela pra mostrar as visitas
Lembro também meu velho cachorro baio
Um macaco e um papagaio e um casal de caturritas
(Isso lá de quando em quando a roseira enflorescida
E a minha china querida para enterter as visitas
Mostrava logo a roseira e depois a casa inteira
Os papagaio as caturritas)
Eu me lembro bem assim parece estar enxergando
O gato se espreguiçando sobre a cadeira estofada
E a galinhada que enfeitava o terreiro
Nosso porco no chiqueiro e uma lavoura plantada
(Me lembro bem deste gato, era um gatito bardoso
Molerengo preguiçoso tinha o nome de Mimi
E ela tratava esse gato com todo zelo
E passava a mão no pelo até o gato dormir)
Meu cachorro perdigueiro que era amigo do meu pingo
Nós saía nos domingo numas horas tão felizes
Nos campo aberto onde entrava nós três
Com uma arma dezesseis pra negaciar as perdizes
(Meu cavalo, meu cachorro dois bichos fieis amigos
Em tão triste hora eu digo do pingo eu penteava a crina
A bicharada, que não morreram fugiram
Parece até que sentiram com a morte da minha china)
Com a morte da minha china não tratei do bicharedo
Até o meu novo arvoredo foi secando e não cresceu
O macaco entristeceu e as caturritas fugiram
E as parreiras caíram, o meu cavalo morreu
(E assim foi se acabando meu rancho ficou tapera
Nem eu sou mais o que era, tudo se acabou para mim
Eu sei que mais tarde eu morro
Que nem o cavalo e o cachorro, rancho, arvoredo e jardim)
Meu cachorro ficou louco
E assim de pouco a pouco tudo desapareceu
Só o que não desaparece
É a saudade que cresce neste humilde peito meu