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Andarilho

Raízes Urbanas II (2019)

Vilton e Nórton

Abro a porteira e me aparto
do campo verde e estancieiro
só pra estender meu baixeiro
no capão dos corredores
sou destes que os cantadores
batizaram nas guitarras
no peito dum malacara
vivo empurrando horizontes

minha bíblia é um martín fierro
sempre esbarro numa china
e a imagem que me domina
É um parador de rodeio
já tive um rancho, senhores
e tardes de primaveras
onde eu lavava a erva
sentindo o cheiro das flores

sou ponto vivo e consciente
na estância real das estradas
vivo domando as mágoas
de um passado inconveniente
nas horas das rondas claras
o pensamento é tordilho
e eu recorro cada estrela
recostado no lombilho

meus olhos horizontais
pintam quadro em campo alheio
cada porteira é um anseio
pra um calmo desencilhar
talvez um dia eu encontre
um olhar destes morenos
sem baldas e nem venenos
e aqui me ponho a cantar

a cantar
a cantar
a cantar
a cantar...


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