Chimarreando
Glórias ao Rio Grande (1988)
Os Fandangueiros
(dilamar portes/ervan silveira fio/gracio pessoa)
quando acaricio este frasco moreno
olhando o sereno no campo a brilhar
este gosto amargo de essência de erva
É o que conserva o dom de chimarrear
primeiro é secada, depois é socada
além de cancheada pelas mesmas mãos
e, de manhã cedo, sabe´ o segredo
de cevar a dedo um bom chimarrão
sei que em cada mate o tempo nos leva
desmorona a erva e a água esfria
então bato as brasas, reacendo o fogo
faço um mate novo pro meu dia-a-dia
quando me adelongo alisando o porongo
vou de gole em gole até a bomba roncar
no calor do fogo, no chio da cambona
manhã chimarreona, fico a contemplar
pois essa herança vem desde criança
motivos que tenho para levantar
meus cabelos brancos de tempo e fumaça
símbolo da raça, nunca vou negar
sei que em cada mate o tempo nos leva...
um dia, mateando com a minha prenda
lhe falei, contigo quero sempre estar
na minha outra vida, depois da passagem
pra sempre tua imagem eu quero levar
me disse a parceira, se fores primeiro
pra o chão derradeiro, se deus te chamar
põe erva na cuia, vá aquecendo a água
vá cevando um mate para me esperar
sei que em cada mate o tempo nos leva...