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Veterano / Tertúlia

Os Serranos, Ao Vivo na Expointer (2007)

Os Serranos

As vezes tô me lembrando do baile da mariquinha
Do xote velho largado e da rancheira que vinha
Do café de chaleira que a comadre me servia
Farofa e feijão e mexido num a quarta de farinha

A melhor coisa do mundo era o baile da mariquinha
Chegava os fins de semana sábado de manhãzinha
Dava aquele reboliço tchê mexerico de vizinha
As velhas batiam guizo as moças lá na cozinha

Vai bota o vestido novo juracema presente da tua madrinha
Todo mundo se aprumava pro baile da mariquinha
Os convidados do baile do baile da mariquinha
Uns a pé e de a cavalo e outros de carreta vinham

E começavam a dançar gente grande pequenina
Ferravam na meia canha com trovas e ladainhas
A melhor coisa do mundo era o baile da mariquinha
A segurança do baile era de primeira linha

Tinha o zapa no comando e lá na copa o bijuquinha
E se estourasse a peleia o tio zapa que atendia
Tirava a indiada lá pra fora e no tapa resolvia
E a alegria continuava no baile da mariquinha

//

Tô de namoro com uma moça solteirona
A bonitona que ser aminha patroa
Os meus parentes já estão me criticando
Estão falando que ela é muito coroa
Ela é madura tem mais de trinta anos
Mas para mim o que importa é a pessoa

Não interessa se ela é coroa
Panela velha é que faz comida boa
Menina nova é muito bom mas mete medo
Não tem segredo e vive falando à toa

Eu só confio em mulher com mais trinta
Sendo distinta a gente erra ela perdoa
Para o capricho pode ser de qualquer raça
Ser africana italiana ou alemoa

A nossa vida começa aos quarenta anos
Nasce nos planos pra o futuro da pessoa
Quem casa cedo logo fica separado
Porque a vida de casado logo enjoa

Dona de casa tem que ser mulher madura
Porque ao contrário os problemas se amontoa
Vou me casar pra ganhar o seu carinho
Viver sozinho as vezes desacorçoa

E um gaúcho sem mulher não vale nada
É que nem peixe viver fora da lagoa
Tô resolvido vou contar aos meus parentes
Aquela gente que vive falando à toa
Está findando o meu tempo a tarde encerra mais cedo
Meu mundo ficou pequeno e eu sou melhor do que penso
O bagual tá mais ligeiro braço fraqueja às vezes
Demoro mais do quero mas alço a perna sem medo

Encilho o cavalo manso mas boto o laço nos tentos
Se a força falta no braço na coragem me sustento

Se lembro os tempos de quebra a vida volta pra trás
Sou bagual que não se entrega assim no mais

Nas manhãs se primavera quando vou parar rodeio
Sou menino de alma leve voando sobre os pelegos
Cavalo do meu potreiro mete a cabeça no freio
Encilho no parapeito mas não ato nem maneio

Se desencilho o pelego cai no banco onde me sento
Água quente e erva buena para matear em silêncio
Neste fogo onde me aquento removo as coisas que penso
Repasso o que tenho feito para ver o que mereço

Quando chegar meu inverno que me vem branqueando o cerro
Vai me encontrar venta aberta de coração estreleiro
Mui carregado de sonhos que habitam o meu peito
E que irão morar comigo no meu novo paradeiro

/

(uma chamarra uma fogueira
Uma chinoca uma chaleira
Uma saudade, um mate amargo
E a peonada repassando o trago
Noite cheirando a querência
Das tertúlias do meu pago)

Tertúlia é o eco das vozes perdidas no campo afora
Cantiga brotando livre novo prenúncio de aurora
É rima sem compromisso julgamento ou castração
Onde se marca o compasso no bater do coração é o batismo dos sem nome rodeio dos desgarrados
Grito de alerta do pampa tribuna dos injustiçados
Tertúlia é o canto sonoro sem fronteira ou aramado
Onde o violão e o poeta podem chorar abraçados


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