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Alambrado

Poemas Gaúchos (1993)

Jayme Caetano Braun

Como ponteando o progresso
Surgiste um dia alambrado
Braço de pinho encordoado
Sobre o lombo da coxilha
Um moirão de curunilha
Sinchando cordas de aço
Que foi o ceio de laço
Da velha raça caudilha

Estendidos na paisagem
Como dantesco esqueleto
Os teus fios de arame preto
Causaram constrangimento
E até o assobio do vento
Entre os buracos de pua
Encheu o pampa charrua
D'um som triste e agorento

E num lamento soturno
Que o eco reproduziu
Tinindo de fio em fio
Esse bárbaro som novo
Foi o primeiro retovo
Na liturgia das grotas
E deu as primeiras notas
Dos funerais do meu povo

Pois quando aqui tu surgistes
Igual aparição infame
O guasca com cerca de arame
Não conhecia fronteira
E só tinha por barreira
Além do rancho pampeano
Os arenais do oceano
E as pedras da cordilheira

A velha taipa de pedra
Matastes sem compaixão
E a cerca de varejão
Também botaste de lado
Quanto atalho terminado
E quanto potro de estouro
Deixando tiras de couro
No teu arame farpado

Cercastes de corredores
As velhas estradas reais
E nos escampos natais
Estirado sem critério
Pareces um cemitério
De cruzes enfileiradas
Assinalando as ossadas
Do velho pago gaudério

Por isso cerca de arame
Eu nunca gostei de ti
Pois o pago onde nasci
Não precisava tapumes
E a prisão que tu resumes
Se nos trás prosperidade
Quase mata a liberdade
Que é lei dos nossos costumes

Mil vezes te desatei
Pra ver a china domingo
Pois onde meto meu pingo
Nunca dou volta por nada
E arrombei muita invernada
Cortando e deitando trama
Sem jamais respeitar fama
De nenhum venta rasgada

Velho alambrado gaúcho
De três, quatro ou sete fios
Se nem os cerros e os rios
Fugiram-te a tirania
Minha guasca sesmaria
Duvido que tu arranques
Pois ninguém crava palanques
Nesta minh'alma bravia


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