Querência
De Bota e Bombacha (2000)
Bagre Fagundes
De fronte do galpão grande
um cerne de curunilha
palanqueador de tropilhas
cravado num chão sulino
sob a luz de um céu divino
o campo que não se entrega
Á pata e a peito de água
vai ressabiando o destino
a várzea se estende longe
vista do fundo das casas
e um campeiro cria asas
repassando a bagualada
quem tem olhos de invernada
e ânsias crioulas no peito
faz o que deve ser feito
e o resto ajeita na estrada
a fibra desta querência
vem das lidas campo afora
trazendo pátria na espora
e no cantar do fronteiriço
mescla de ciência e feitiço
timbrada a berro de gado
e a bufo de mal-costeado
que se amansou no serviço
de dia... sol e nuances
de noite... romances e lua
nesta querência xirua
cada vez mais entonada
apartes, tombos, bolcadas
pealos, rodeios, carreiras
e um sotaque de fronteira
pa hablar de una gineteada
um paraíso é quem ronda,
de copa mansa e serena.
a velha estância torena
postal de pampa e coxilha
jasmineiros, maçanilha
enchendo o pago de flores
e pra entreter dissabores
fumo bueno e figuerilha
rincão de gente gaúcha
vida, terra e liberdade
quem se vai, sente saudade
quem volta bendiz a deus
o mundo é feito de adeus
te apeie e chegue pra diante...
quem busca um sonho distante
acha bem perto dos seus.