Tapera
Aquilo Roxo (1991)
Os Milongueiros
Vertente de água, um matinho nos fundos
casebre por fundo, nos oitão caída,
parece mentira, meu primeiro lar,
volto a visitar, meu peito suspira
foi lá que mamãe entregou a papai,
um amor sonhado e tanto esperado
por isso até hoje do peito não sai,
revendo a tapera que os velhos moravam
mangueira redonda de vara e tronqueira,
cancha de carreira, que o brejo tapou
a aranha velha em busca parteira,
os pés de fruteira que a terra criou
a ramada grande que o papai mateava
os pés de roseira que a minha mãe plantou
a horta de couve que o guri cuidava
e o forno de barro feitim por vovô
naquele matinho na costa da sanga
eu comia pitanga e armava arapuca
ali se escondia nossos bois de canga
a fugir do arado e não de mutuca
a fonte de água parou de correr
chorei por não ver os meus pés de fruteira
o coqueiro alto que eu comia coco
ainda ví o tronco da guabirobeira
me fui nesse xote chasqueiro do tempo
deixei muito longe a infândia pra tráz
botei na garupa do meu pensamento
rever a tapera dos meus velhos pais
o que a terra cria esse tempo transforma
e jamais retorna do jeito que era
o mundo agitado a vida não espera
adeus meu passado, querida tapera