Olhos Cegos
Arremate da Vida (2000)
Cesar Passarinho
De que me adianta esse poder dos pilas
Correr atoa por guaiacas cheias
Se as amarguras vão fazendo filas
Pra me secar de vez todas as veias
De que me adianta o riso falso e tolo
Essas mentiras mascarando prantos
Se vejo longe a vida, o rio, o rancho
Uma saudade a me levar encantos
As vezes quando o entardecer se achega
E a passarada enternece a praça
No apartamento eu fecho os olhos cegos
E o sonho chega feito uma cachaça
Os sentimentos ganham rumos certos
Alçando voo com destino mio
Eu perco as rédeas da noção do tempo
Mas já conheço bem esse caminho
Eu perco as rédeas da noção do tempo
Mas já conheço bem esse caminho
Aí eu lembro as tantas tardes santas
O céu sangrando por de trás do brete
Sombras suaves jeito de acalanto
Sobre o açude que descança inerte
Ajeito o fumo sobre a palha larga
E vou tragando esse silêncio manso
A brisa morre quase derepente
Enquanto o pago vela meu descanço
A brisa morre quase derepente
Enquanto o pago vela meu descanço
Há um tumulto pelo bar da esquina
A vizinhança corre pra sacada
Eu abro os olhos cegos lentamente
Já não escuto mais a passarada
Eu abro os olhos cegos lentamente
Já não escuto mais a passarada