(paulo ricardo costa/nilton ferreira)
a chuva guasqueada castigou o rancho a noite inteira
pingando goteira das telhas quebradas que o tempo gastou
o sono perdido tomou outro rumo pela madrugada
na erva lavada, amarga de sonhos que se bandeou
nas frestas respingam lágrimas de chuva em aguaceiro
e, lá no terreiro, um galo encharcado traz vida pras casas
a manhã se espreguiça, cinzenta e vazia, clareando o oitão
e o angico chorão borbulha sua ira findando em brasas
neste aguaceiro que inunda os campos pelas invernias
minh´alma vazia, alheia ao silêncio que se aquerenciou
reponta ilusões da ânsia incontida que já fez morada
campeando na estrada um olhar perdido que se desgarrou
a mangueira de pedra, inerte no tempo, num sono profundo
demonstra que o mundo se acaranchou em sua porteira
as vidas passadas guapeiam lembrança pelo rancherio
de quem já partiu, deixando saudade para a vida inteira
um poncho se abre com asas de noite goteando no chão
e a tal solidão acarancha tristeza no peito da gente
o olhar se perde no imenso vazio que a manhã reponta
e nem se dá conta do quadro bonito pintado pra gente
neste aguaceiro que inunda os campos pelas invernias...