INFORMAÇÕES DA MÚSICA

Payada do Laçador

Jayme Caetano Braun

CD Paisagens Perdidas (1994)

Ele veio das potreadas
Da estância e da tolderia
Quando o gaucho nascia
Da barbárie das arreadas,
Tentos de garras trançadas
E a pericia no manejo,
O indio rude e andejo
Sobre o lombo do cavalo
Que tanto botava um pialo
Assim como dava um beijo...

Em cada tento uma braça
Dependurado no flanco,
Indio - pardo - negro e branco
Que definiram a raça;
Por isso quando passa
Quer de a cavalo ou de a pé
Desde os tempos de Sepé
A legenda o multiplica,
A indiada o identifica
E as chinas sabem quem é!

Quando o laço arreboleia
No rodeio ou na mangueira
É a própria estirpe campeira
No serviço ou na peleia
E - na pegada mais feia,
Num mergulho de infinito
Tudo se pára bonito
E a geometria se alinha
Sempre que o guaxo afocinha
Ali no prender do grito!

Parece que ganha vida
Na conflência das ruas
Trazendo as lides charruas
Para o meio da avenida
E, na expressão atrevida,
Renascem gritos de farra:
Há rasguidos de guitarra
De formação gauchesca
E a tonada barbaresca
Dos ponteiros da "cucharra"!

Anda um quadro na mangueira
Do tempo atrás removido
E os ares trazem o ruído
Na saída da porteira;
Revive a estirpe campeira
Numa entonação pachola
E o laço se desenrola
Soltado num sobrelombo
Que chega a se ouvir o tombo
E a cantilena da argola!

Laço trançado de seis,
De quatro - como de oito,
Sempre seguro e afoito
De acordo com as velhas leis,
No Continente dos Reys
O Laçador se destapa
E já faz parte do mapa,
Do passado e do futuro,
No simbolismo mais puro
Da nossa Terra Farrapa!

Com a vincha atando as melenas
Esvoaçando contra o vento,
Resnaces num monumento
De tirador e chilenas,
Marcando as feições morenas
Numa figura indelevel;
Não há vendaval que leve,
Não há progresso que apague
E nem dinheiro que pague
O que o Rio Grande te deve!

Tu nos fala - Laçador,
Das lutas e pastoreios
Das tropeadas e rodeios,
No bronze eterno e na cor,
Revivendo o campeador,
Mais duro do que o quebracho,
Nessa pose de índio macho,
Sabendo - de la do alto
Que se arrancarem esse asfalto,
Aparece grama em baixo!

Símbolo desta cidade,
Num gesto de boas vindas
Olhando as linha infindas
Que abraçam a imensidade,
És aprópria identidade
Deste Porto dos casais;
Não se extraviarão jamais
Os xucros que derrubastes
Nem os pialos que botastes
Nas munhecas dos baguais!

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ESTÂNCIA

Grande estabelecimento rural (latifúndio) com uma área de 4.356 hectares (50 quadras de sesmaria ou uma légua) até 13.068 hectares (150 quadras de sesmaria ou três léguas), dividida em Fazendas e estas em invernadas.

LAÇO

Apero (acessório) trançado de couro cru, composto de argola, ilhapa, corpo e presilha.

RODEIO

Reunião para cuido, que se faz do gado.

VINCHA

Tira de couro, cinta transada ou fita larga de pano, com o que se fixa a melena ou a gadelha, para que não caia nos olhos e ou, para que o suor não prejudique a visão.

TIRADOR

Avental de couro; pilcha exclusiva de serviço.