Voltei...
Voltei índio nas feições, no canto,
Sincero pranto a derramar poesia...
Voltei na forma do barro
De outras vidas que vivi;
Um "sinal santo" na prece,
O olhar de algum "guarani".
Que habita junto aos silêncios
Os meus 'adentros' contidos;
Antes palavra dos matos,
Hoje idioma do esquecido.
Voltei no mouro das pedras
'silhuetas' de lua inteira;
Um gesto livre charrua,
O 'abraço' da boleadeira.
Que foi sentença no tombo
Que a poeira simples deu fim;
Antes nas mãos, pelo vento,
Hoje no chão de onde vim.
Vive em mim...
Um "cunumi" de pés no chão;
Num coração, lágrima pura, nostalgia,
'feitiço índio' nas feições, no canto,
Sincero pranto a derramar poesia.
Voltei na idade do couro
A 'vincha' atada na crina;
Botas de potro, minuanos,
Sereno, prezo as retinas.
Os toldos, carnal do avesso,
Um céu de estrela em retovo;
Antes abrigo pras noites
Hoje sem marcas de fogo.
Voltei no 'primeiro canto'
Antes do 'gaucho' nascer;
Chiripá, poncho, "pampeanos",
Outro campo, a florescer.
Onde colhi argumentos
A geografia das penas;
Antes voz clara da terra,
Hoje intenção de um poema.
Voltei índio nas feições, no canto;
Sincero pranto a derramar poesia...