Desde quando eu aprendi
Na juventude passada
Tocar e cantar pro povo
Rincão de minha morada
Uma gaita de oito baixo
Uma voz desafinada
Tocava até vir o dia
E o cachê que eu recebia
Era o café da madrugada
Café com com pão
Queijo, lingüiça e ovo
Depois voltava pro palco
Para alegria do povo
O repertório acabava
Dava um grito e me enfesava
E tocava tudo de novo
Foi até que um certo dia
Eu passei por uma prova
Quem não tem categoria
Por si mesmo se reprova
Uma moça da cidade
Chegou me enchendo de trova
Exigindo que eu parasse
E ordenando que eu puxasse
Uma tal de bossa nova
Eu disse a ela
Tenho medo que eu não possa
Pois esta minha gaitinha
Só toca coisas da roça
Vai curtindo meu embalo
Que no próximo intervalo
Eu vou puxar a sua bossa
Quando deu o intervalo
Ela me olhou e sorriu
Era a hora derradeira
De enfrentar o desafio
Fui pesquisando a gaitinha
E a minha moral caiu
Quase morri de vergonha
Fiz uma força medonha
Mas a bossa não saiu
Eu disse a ela
Tenho medo que eu não possa
Pois esta minha gaitinha
Só toca coisas da roça
Vai curtindo aí um tango
Que no próximo fandango
Eu vou puxar a sua bossa
E no dia do fandango
A moça compareceu
Mas pra tocar na gaitinha
Eu mandei um irmão meu
Bem parecido comigo
E ela pensou que era eu
Já veio com a mesma trova
Puxe agora a bossa nova
Que você me prometeu
Disse o meu mano
Tenho medo que eu não possa
Pois esta minha gaitinha
Só toca coisas da roça
Vá curtindo um vaneirão
Que mais tarde o meu irmão
Vai puxar a sua bossa
Denominação genérica do Baile Gaúcho.