Eu tenho a sede nos lábios;
de dores, a alma cheia;
nos olhos, marejo ânsias de chegar!
eu venho de muito longe,
de onde a fome campeia;
não trago histórias bonitas p’ra contar!
migrei de campo e sementes
pr’a não mais ter que semear;
herdei a sina inclemente
dos que não têm pr’a plantar!
segui os rastros deixados
pelos que ousaram sonhar;
e os ossos dos desgarrados
me diziam pr’a voltar!
refrÃo
voltei pr’a o berço da pampa;
de onde, um dia, parti!
reconheci minha estampa
em cada sanga daqui!
meu zaino, quase cansado,
fareja o chão da querência,
juntando as forças que restam pr’a chegar!
andei por terras estranhas,
cinchando a sobrevivência,
mas o que deixei aqui, não tem por lá!
só trago versos tristonhos
que a solidão faz cantar;
na concha das mãos, os sonhos
que ainda pude salvar!
segui os rastros deixados
pelos que ousaram sonhar;
e os ossos dos desgarrados
me diziam pr’a voltar!
refrÃo (bis)
.......