Ramiro Amorim e Jones Andrei Vieira
O baixeiro de lã e o de palha / mula preta bruca e cangalha
tranca fio com liga sobre carga / o sincerro a guiar a jornada
arribando a minha a gente trabalha / na labuta rude das tropeadas
Por tropeiro conheço os atalhos / corredores e lastros dos rios
no inverno pinhão no borralho / nó de pinho pra espantar o frio
/no pinheiro balançando o galho / eu ouço roncar um bugio/
Tropeando escuto o som do pago / sinfonia campeira orquestrando
sabiás num canto de afago / os tilipas em bando alardeando
/e na volta o sorriso largo / Se ouço as curucacas cantando/
O som das tropeadas me encanta / porque fui piazito madrinheiro
Lembrança que se agiganta / ao lembrar meu avô tropeiro
/Por isso minha alma canta / quando ouço o bater de um sincerro./
Passo lento da tropa pesada / o ponteiro lá pra diante se foi
do cargueiro rangindo na estrada / fazer fogo pra quem vem depois
picar charque em carona sovada / ouvindo longe o grito de era boi.
Sou tropeiro criado na lida / diferente dessa vida de agora
quando se ouvia no clarear do dia / zonidos de barbela e espora
/era acôo de cusco e relinchos / e o berro do gado campo afora/
Estes sons de gralhas e siriemas / de cigarras, baitacas, tirivas
sinfonia campeira e suprema / destes campos de matas nativas
/até o berro da tropa é um poema / pra quem viveu pelas comitivas/
O som das tropeadas me encanta / porque fui piazito madrinheiro
Lembrança que se agiganta / ao lembrar meu avô tropeiro
/Por isso minha alma canta / quando ouço o bater de um sincerro./